quarta-feira, 25 de junho de 2008

A procura da Natureza Intocada

Passei os últimos 40 dias viajando pelo cerrado brasileiro a procura de riachos que não tivessem sido submetidos a qualquer interferência antrópica direta de forma a poder utilizá-los no meu projeto de doutorado como cenários referência para comparação com áreas sob influência humana.

No meio do caminho comecei a constatar que o que estava procurando não existe a alguns milhões de anos, e quão tola era minha jornada. A condição referência nada mais é do que uma re-construção de um mito de natureza intocada, que ainda permanece nas nossas mentes. Quando pensamos em uma unidade de conservação, logo nos vêm à cabeça belezas cênicas, sem qualquer sinal de construção ou de atividade humana. Porém a realidade é completamente diferente do idealizado por nós. As unidades de conservação principalmente na savana brasileira, ambiente que inclusive possuímos uma certa afinidade evolutiva, já foram intensamente modificadas e o que observamos hoje nada mais é do que produto de uma exploração histórica e por que não dizer paleontológica.


Depois de constatar a inutilidade da busca, entendi que posso trabalhar em áreas com a máxima preservação possível, que compõe as ultimas reservas de uma natureza ancestral. Riachos dentro de um contexto natural repleto de oscilações, mas que ainda preservam características únicas, que determinam a distribuição de algumas espécies mais sensíveis.

Desta forma conhecendo melhor a semelhança na estruturação de comunidades distintas, estamos chegando mais perto de compreender a influencia dos processos evolutivos nos níveis hierárquicos mais altos como o de bioma e ecossistema. De forma a podermos controlar melhor a influência inquestionável que causamos.

Cada vez mais me fica claro como tem sido importante na minha formação a realização de viagens a campo. Toda realidade esta exposta a minha frente, proporcionando um amadurecimento profissional intenso e um aprendizado teórico-natural inatingível em salas aula. De forma que considero lamentável a existência de cursos de biologia sem o emprego destas importantes ferramentas didáticas.

3 comentários:

Maria Guimarães disse...

as pessoas costumam esquecer que fazem parte do processo evolutivo. todo ser altera seu ambiente. o homem mais do que devia, mas não se justifica acharmos que somos espectadores de um processo que deveria ser alheio a nós.

Renato de Mei Romero disse...

Concordo plenamente acho que temos que sair da condição de espectadores para entramos na condição de atores socio-ambientais-evolutivos que somos.

Unknown disse...

Parabéns pelo seu trabalho! O destino de todos os seres vivos da Terra está à mercê das acções de uma única espécie: o ser humano. Este é, entre todos, o animal que tem mais potencial de modificar o seu próprio meio ambiente e o das outras espécies. É bom que haja alguém como você que nos apresenta a "Natureza Intocada". Convido-o a visitar-me em http://onde-encontro.blogspot.com/.