domingo, 29 de junho de 2008

Cinema catastrofe!


De uns tempos pra cá, tem se visto muitas catástrofes ambientais no cinema. Pra citar apenas alguns exemplos já tivemos o “Twister” com seus tornados perseguidores de pessoas, “O Inferno de Dante” despertando vulcões adormecidos e mais recentemente “O dia depois de amanhã” trazendo um pouco das novas teorias sobre as conseqüências do aquecimento global.
Essa semana tive a curiosidade de assistir ao filme “Fim dos tempos”, que segue também a linha catastrofista e mais uma vez me decepcionei com o conteúdo.
O filme traz um suspense sem um vilão personificado, ou melhor, personifica toda a natureza como inimiga. As plantas (todas as espécies aparentemente) criam um complô químico contra nossa espécie. As pessoas que respiram uma toxina liberada por elas se desorientam (toscamente caracterizado como andar para traz, como se fosse mais fácil se orientar andando para traz!!!) e cometem os suicídios mais criativos que hollywood foi capaz de imaginar. O filme foi mais sobre suicídios e do que sobre a temática ambiental, inicialmente proposta.
O filme segue a mesma receita clássica, fenômeno natural descontrolado pela ação do homem e mocinhos (com algum vinculo científico) tentando resolver problemas pessoais enquanto fogem. Vi muitas pessoas após saírem da sala de cinema imaginando a possibilidade daquilo tudo ocorrer. As pessoas esperam que aconteça um fenômeno natural só, que castigue tanto nossa existência que servirá de marco para mudanças drásticas de comportamento. Seria como uma palmada divina, para educar a criação malcriada. Sendo que o mais provável que ocorra é uma descaracterização lenta e gradual de nosso modo de vida. O nível do mar não subirá 3 metros acima da média, mês que vem! Ele só se tornará mais forte e mais alto em determinadas épocas do ano e subindo gradualmente e depois de algum tempo levará todas as casas à beira mar. Os alimentos se tornaram mais caros, a água mais preciosa, algumas pequenas tragédias como desabamentos, enchentes e furacões mais freqüentes. Enquanto isso às pessoas trabalham mais para ter as mesmas coisas, não se conformam com um mundo em constante transformação e conseqüentemente nada fazem para resolver a problemática ambiental.
Não sou contra a magia do cinema, mas simplesmente acredito que esse dinheiro todo poderia ser gasto de forma mais inteligente. Uma história deste tipo poderia ter sido contada de forma mais clara e que ao menos passasse uma lição mais construtivista de consciência ambiental.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

A procura da Natureza Intocada

Passei os últimos 40 dias viajando pelo cerrado brasileiro a procura de riachos que não tivessem sido submetidos a qualquer interferência antrópica direta de forma a poder utilizá-los no meu projeto de doutorado como cenários referência para comparação com áreas sob influência humana.

No meio do caminho comecei a constatar que o que estava procurando não existe a alguns milhões de anos, e quão tola era minha jornada. A condição referência nada mais é do que uma re-construção de um mito de natureza intocada, que ainda permanece nas nossas mentes. Quando pensamos em uma unidade de conservação, logo nos vêm à cabeça belezas cênicas, sem qualquer sinal de construção ou de atividade humana. Porém a realidade é completamente diferente do idealizado por nós. As unidades de conservação principalmente na savana brasileira, ambiente que inclusive possuímos uma certa afinidade evolutiva, já foram intensamente modificadas e o que observamos hoje nada mais é do que produto de uma exploração histórica e por que não dizer paleontológica.


Depois de constatar a inutilidade da busca, entendi que posso trabalhar em áreas com a máxima preservação possível, que compõe as ultimas reservas de uma natureza ancestral. Riachos dentro de um contexto natural repleto de oscilações, mas que ainda preservam características únicas, que determinam a distribuição de algumas espécies mais sensíveis.

Desta forma conhecendo melhor a semelhança na estruturação de comunidades distintas, estamos chegando mais perto de compreender a influencia dos processos evolutivos nos níveis hierárquicos mais altos como o de bioma e ecossistema. De forma a podermos controlar melhor a influência inquestionável que causamos.

Cada vez mais me fica claro como tem sido importante na minha formação a realização de viagens a campo. Toda realidade esta exposta a minha frente, proporcionando um amadurecimento profissional intenso e um aprendizado teórico-natural inatingível em salas aula. De forma que considero lamentável a existência de cursos de biologia sem o emprego destas importantes ferramentas didáticas.