sábado, 5 de abril de 2008

Nós os gambás..

Venho através desta criticar de forma verdadeira, sincera e honesta a maneira com que vocês nossos primos primatas conduzem suas vidas pessoais e profissionais. Escrevo este ensaio também na tentativa de entender um pouco mais as incoerências associadas a este estranho modo de vida, e o porque vocês fazem tanta questão de ignorar as outras manifestações animais.

Meus queridos placentários, nós como os outros seres vivos, apesar de muito diferentes de vocês primatas modernos também pensamos e lutamos pelos nossos direitos. Só não temos a quantidade de tempo ocioso que vocês tem.


Não passamos horas, dias e anos em frente a caixas luminosas, comendo mais do que precisamos, não criamos leis que somos incapazes de cumprir, nem pregamos o desenvolvimento sustentável, porque realmente também não acreditamos nele. Vocês chegam ao absurdo de criar pastagens para não precisarem mais caçar e mesmo assim ainda matam meus filhos para consumir uma misera porção de carne.

Alguns de vocês, a minoria, se diz mais inteligentes que os companheiros e pra provar isso pregam pedaços de papel ou couro de outros animais na parede e se auto-intitulam cientistas!
Esta sem dúvida está entre a guilda de seres humanos mais interessantes de se analisar, são dentre todas as criaturas as que mais leram livros e estudaram outras criaturas e ainda assim continuam a cometer os mesmo erros de incoerência dos menos letrados.

“Pesquisam” a biodiversidade mas ainda não se deram conta que fazem parte dela, geram listas e mais listas, nos dão uma série de nomes complicados que a maioria nem sabe pronunciar, produzem gráficos e números absurdos que só fazem sentido para si próprios.

Colecionam artigos científicos, como as crianças de sua espécie fazem com bonecas e figurinhas coloridas, balançam a cabeça e fazem caras de indignados em sinal de discordância quando recebem uma notícia triste e por isso se julgam especiais, diferentes, capazes de sentir e pensar mais.

Um de vocês (Wilson, 2002) uma vez me disse que o serviço prestado pelos ecossistemas é estimado em 33 trilhões de dólares por ano, bom, ou nós marsupiais não fazemos parte deste ecossistema ou vocês não sabem fazer conta.

Como um bom portador de sobrancelhas eu ainda posso me considerar com sorte em comparação aos outros animais da floresta que as vezes nem são vistos como tal, mas mesmo assim sou desprezado pela minha aparência triste e por minha fama fétida. Dessa forma só me resta aceitar o mesmo destino dos outros 99,9% da diversidade do planeta, às quais vocês ainda não descobriram uma utilidade imediata.

Triste pelo meu fim, mas feliz por já saber quem vem será o próximo.

Gambá.